Movimento pela Flor

* Mhanoel Mendes

Minha filha Giulia, de 15 anos, pediu-me para ir na manifestação que vai ocorrer nesta quinta-feira, 20 de junho, em Criciúma, cidade onde moramos. Numa tentativa de entender a sua motivação, perguntei-lhe porque queria ir, se não usava ônibus. Ela me respondeu que não usava ônibus, mas era contra o aumento da passagem e que o movimento não é só por isso: é contra o mensalão, é contra os elefantes brancos da copa do mundo, é contra os desmandos da política sorrateira e os políticos ladrões. Mais: que era a favor da qualidade de vida, da saúde com qualidade, da educação igual para todas as classes, da ecologia, enfim, de um sistema mais justo, para todos, não para alguns poucos privilegiados.

Giulia está no primeiro ano do ensino médio e é um botão de flor desabrochando no jardim da existência e precisa ser regado, adubado para ter viço. E, pra mim, ela representa um pouco deste movimento que tomou o Brasil e se alastrou pelo mundo com manifestações em diversos países de diferentes continentes. A partir dela, percebo que é um movimento sem cara, sem cara pintada, sem partido político à frente, mas é um movimento político que tem rede e, principalmente, tem coração.

Parece que nossos dirigentes, nossos políticos não se aperceberam que, o silêncio, às vezes, é acúmulo de forças para enfrentar os desmandos, as ações equivocadas, os roubos e desvios. E, observando um pouco melhor, pode-se deduzir que esses movimentos têm um ciclo no Brasil. Só para citar três ondas passadas: a vassoura de Jânio Quadros no início da década de 1960, o ataque aos marajás com Collor de Mello em 1992 e agora estas manifestações em 2013.

Atribuído a Maiakovski, mas na verdade, sua autoria é do escritor Eduardo Alves da Costa, esse poema representa a essência desse movimento: “Na primeira noite eles se aproximam, roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não dizemos nada.”

E não é a toa que os manifestantes desse movimento enfrentam com sonho e flores os policiais armados de spray de pimenta, bomba de efeito moral e balas de borracha. Antes de serem roubados, os manifestantes se anteciparam, colheram suas flores e as oferecem pacificamente aos homens e mulheres de farda.

Quinta-feira estarei lá na manifestação, digo, estaremos, Giulia e eu. Vou com um regador para depositar um pouco de água nesse jardim da nossa casa que se chama universo, na esperança de que todas as flores desabrochem, inclusive minha filha Giu, e se tornem o que elas são: vida!

* Psicólogo e escritor – www.oikos.org.br

Filipe Colombo

Sobre Filipe Colombo

Formado em Administração com ênfase em Marketing, É conselheiro profissional formado pelo IBGC e possui MBA em administração de empresas cursado nos EUA, China e nos Emirados Árabes. Acumula mais de 20 anos de experiência em gestão de empresas e é autor do best seller “Gestão Profissional na Prática”. Neste livro, são compartilhados ensinamentos, visões e conselhos que são frutos de sua experiência acadêmica e profissional.
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2 respostas para Movimento pela Flor

  1. Guilherme - MG disse:

    Parabéns pelo texto e pela sua convicção da luta que nossos jovens estão enfrentado, por um país mais justo. Sou pai e avô, por isso participarei da manifestação, agendada na minha cidade. Um abraço.

  2. ELISETE disse:

    … O Q DEVO DIZER… SENAO CUMPRIMENTA-LO PELO TEXTO… PELA FILHA E PELA ATITUDE.
    abraços aos dois e que, essa luta faça nascer muitas flores e enfeitar esse pais.

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