Lenda do 99

artigo261* Beto Colombo

Querido leitor, paz! Você conhece a Lenda do 99? Já ouviu falar sobre essa lenda? Então, vamos a ela. Era uma vez um Rei muito triste que tinha um pajem, que era muito feliz… Todas as manhãs, o pajem chegava com o desjejum do seu Amo, sempre rindo e cantarolando alegres canções… Um dia o Rei mandou chamá-lo e perguntou qual o segredo da sua alegria, ao que ele respondeu: “Nenhum segredo, Majestade”. “E por que estás sempre alegre e feliz?”, pressionou o rei. “Majestade, eu não tenho razões para estar triste: muito me honra servir a Vossa Alteza, tenho minha esposa e meus filhos, e vivemos na casa que a Corte nos concedeu, somos vestidos e alimentados e sempre recebo algumas moedas de prata para satisfazer alguns gostos…. Como não estar feliz?”

Em seguida o rei mandou chamar o sábio para quem perguntou: “Por que aquele simples senhor é feliz?” “O que acontece é que ele está fora do Círculo e isso é o que não o faz infeliz”. “Mas como ele saiu desse tal Círculo?”, perguntou intrigado o rei, ao que obteve a resposta: “Ele nunca entrou”. “Mas que Círculo é esse?”, esbravejou o todo poderoso. “É o Círculo dos 99”, explicou sóbrio o sábio.

“Já sei, para eu entender melhor este círculo dos 99, vou obrigar meu pajem a entrar no círculo”, sendo que o sábio foi taxativo: “Não Alteza, ninguém pode ser obrigado a entrar”.  Então teremos que enganá-lo. Nessa noite o sábio buscou o Rei e juntos foram até os pátios do Palácio. Aguardaram o melhor momento e jogaram um saco com 99 moedas de ouro na porta do humilde senhor com um bilhete: “Este tesouro é teu. É o prêmio por seres um bom homem. Aproveite e não conte a ninguém como encontrou esta bolsa”.

Ao abrir a bolsa, não acreditava no que via, pois nunca havia tocado em uma dessas, de repente tinha um monte delas. E assim, brincando, começou a fazer pilhas de 10 moedas. Uma, duas, três, quatro, cinco… E enquanto isso somava 10, 20, 30, 40, 50… Até que formou a última pilha… 99 moedas? “Roubaram-me”, gritou. “Mas falta uma… Noventa e nove não é um número completo. 100 é, mas 99 não…”

O Rei e o sábio espiavam pela janela e viam que a cara do pajem já não era mais a mesma. O pajem guardou as moedas na bolsa, jogou o papel na lareira e começou a calcular que necessitaria de 11 ou 12 anos economizando para poder obter a moeda de número 100.

O Rei e o sábio que observavam toda a cena voltaram ao Palácio. Finalmente o pajem havia entrado para o Círculo dos 99!

Durante os meses seguintes, o pajem seguiu seus planos conforme havia decidido naquela noite.  Numa manhã, entrou nos aposentos reais com passos fortes, batendo nas portas, rangendo dentes e bufando com todo o mau humor típico dos últimos  tempos. “O que lhe acontece, pajem?” – perguntou o Rei de bom grado. “Nada, não aconteceu nada”, respondeu o azedo pajem. Não se passou muito e o Rei despediu o seu pajem, afinal, não era nada agradável para um Rei triste ter um pajem mal humorado o tempo todo.

Parece que esta é a lógica para muita gente, pois em alguns casos somos educados como sempre faltasse algo para estarmos completos, e somente completos podemos gozar do que temos. Parece que a felicidade deve esperar até estar completa com aquilo que falta. Falta me formar para ser feliz, falta me aposentar, a casa ficar pronta, falta ter tal carro, falta ter um neto… Falta… Falta…

Quantas coisas mudariam se pudéssemos desfrutar de nosso tesouro tal como é! Se este é o desafio, talvez a solução está em saber valorizar o que se tem ao redor, e não lamentar-se por aquilo que não tem ou que poderia ter. É assim como a lenda dos 99 me parece hoje. E você, o que pensa sobre isso?

Empresário, Especialista em Filosofia Clínica, Presidente do Conselho da Anjo Tintas.

Filipe Colombo

Sobre Filipe Colombo

Formado em Administração com ênfase em Marketing, É conselheiro profissional formado pelo IBGC e possui MBA em administração de empresas cursado nos EUA, China e nos Emirados Árabes. Acumula mais de 20 anos de experiência em gestão de empresas e é autor do best seller “Gestão Profissional na Prática”. Neste livro, são compartilhados ensinamentos, visões e conselhos que são frutos de sua experiência acadêmica e profissional.
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