Transformação

* Mhanoel Mendes

Credita-se a Albert Einstein a frase de que “é mais fácil dividir um átomo do que um indivíduo muitas vezes mudar de ideia”. Talvez o cientista alemão quisesse dizer que parece que nós somos ensinados desde a tenra idade a sermos um tipo de pessoa, a nos comportarmos de tal maneira diante dos fatos, que acabamos sendo seres totalmente previsíveis. Enfim, influenciados pela mídia, religião, cultura, família, educação, ideologia, vamos nos moldando e, aos poucos, aceitamos a realidade como uma verdade pronta. É só seguir o script.

Pensando assim, agindo assim, concluímos que a realidade aqui fora já está pronta e que cabe a cada um de nós somente entendê-la e reproduzi-la. Somos direcionados a pensar que é o fora que influencia e decide o dentro, mas como nos esclarece a física quântica, o dentro também tem o seu ponto de vista (células, moléculas, átomos). Talvez o slogan do fascismo clareie mais o que intenciono refletir: “Não pense. Deixe que o estado pensa por você”.

Lembro-me que três temas me foram passados desde pequeno como algo feio, pecaminoso. Só em pensar já me causava culpa e era motivo de sofrimento. Falo do espiritismo, do comunismo e da maçonaria. Menciono estes três, mas poderia tocar em muitos outros assuntos que, diante do preconceito, nos impedem de crescermos como ser humano e nos melhorarmos como seres que estão neste jornada existencial.

Lembro-me que cresci ouvindo, lendo e assistindo críticas duras ao sistema comunista, a religião espírita e a filosofia maçônica. Como estava em formação, tudo o que me chegava, chegava por intermédio de pessoas e instituição que me davam segurança e que tinham crédito. Por isso nem questionava. Na verdade, não tinha autonomia para isso, ainda estava ou na anomia ou na heteronomia.

Depois, no decorrer do tempo desta minha existência com quase 49 anos de idade, deixei minha vida provinciana e me abri para o mundo. Questionei meus conceitos, me coloquei no fogo, me pus humilde diante do novo – e assim procuro estar – fiquei sem chão. Ousei sair da zona de conforto e experimentei, a partir daí, a experiência da solidão, da tristeza medular. Fui por aí e me perdi. Afinal de contas, se a gente nunca se perde, como sabe que se está encontrado?

Voltando ao comunismo, ao espiritismo e à maçonaria, lembro que eles me foram repassados na infância como representantes do mal na face da terra. Que não deveria chegar perto de pessoas que defendiam estas ideologias; eram o “demônio” em pessoa. Estava cego, mudo e surdo, embora fosse ao médico e era sempre considerado saudável. Eu era puro preconceito. Hoje, pelo menos tenho consciência disso e procuro me corrigir a cada experiência.

Atualmente vejo que a vida passa da Vila Nova; se não procurasse entender porque pensava daquele jeito e tentasse ir a raiz das questões sem se culpar e nem culpar ninguém, jamais poderia crescer, evoluir, transcender. Poderia continuar achando que o comunismo, o espiritismo e a maçonaria estão a serviço do mal. E hoje, pelo contrário, vejo a beleza e humanidade nas três. Percebo que não devemos nos apegar a nada e nem rejeitar nada porque o todo está no todo, não nas partes. E, ao me fechar para algo, terei uma visão parcial e, assim, não terei condições de observar o todo. Desta forma, minha ação também será desconexa, míope, fragmentada.

Nossa existência é tão rápida que não vale a pena nos apegarmos a ideias, preconceitos que nos retiram da nossa existência. O ser humano toma cerca de 40 mil atitudes por dia: baseado em que você toma estas atitudes: dogma, moral ou ética? Importante colocar que as pessoas mudam todas a sua composição celular a cada 10 anos, ou seja, a cada década, somos literalmente outra pessoa. Então, porque não podemos mudar nossos pensamentos também? Por que se apegar tanto se o apego só traz sofrimento? Por isso, a importância deste sentimento de passagem por esta existência e de um renascimento aqui mesmo.

Mudar dói, transformar-se dói. Mas vale a pena. Mudar de curso, de profissão, de região, de companhia, de governo, de sexo… Acreditemos em nós, escrevamos nós mesmos o nosso script, não deixemos ninguém interferir em nossos sonhos. Aqui, vale lembrar Wiliam Wallace no filme Coração Valente: “Os homens morrem, mas há homem que não vive”.

* Buscador, escritor, psicólogo
www.obuscador.org

Filipe Colombo

Sobre Filipe Colombo

Formado em Administração com ênfase em Marketing, É conselheiro profissional formado pelo IBGC e possui MBA em administração de empresas cursado nos EUA, China e nos Emirados Árabes. Acumula mais de 20 anos de experiência em gestão de empresas e é autor do best seller “Gestão Profissional na Prática”. Neste livro, são compartilhados ensinamentos, visões e conselhos que são frutos de sua experiência acadêmica e profissional.
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3 respostas para Transformação

  1. Rogilda Custódio Francisco disse:

    Acredito que muitos não percebem o convite para a grande festa da vida. Todos nós somos convidados para viver!!! Uns figem que vivem e levam muito a sério o “script”, outros fazem de conta que são diferentes, que vivem e até acreditam, poucos são os que se deixam ou descobrem que podem viver de “verdade”… que podem se despir de seus preconceitos e deixar a amostra suas fragilidades, suas fraquesas… e também e o mais importante, se dão a oportunidade de se conhecer melhor, de se virarem de dentro para fora e de fora para dentro…na verdade tentam entender o seu existir, sua essência… deixar de lado velhos conceito e pré-conceitos que vieram junto no pacote da ” sua existencia”… são poucos, muito poucos, os que conseguem se encontrar e ter “vida” nesta breve passagem terrena.

    • Rogilda Custódio Francisco disse:

      Acredito também que o meio em que somos gerados e posteriormente criados, educados nos levam a ter uma postura igual ou similar aos que nos rodeiam… para sairmos deste círculo, temos que ser ou ter uma sensibilidade fora do comum… temos que nos deixar levar pela sensibilidade que muitas vezes nos são negadas na nossa criação… muitos ou poucos de nós consegue se remeter aos fragmentos de memórias que ficam bem lá no fundinho do nosso ser… lá onde viajamos e experimentamos o que não é compreensivo para a maioria… onde podemos fazer dos recortes, um caminho para trilhar… e daí vem aquela parte do desapego, do se despir do orgulho, do ter, para poder experienciar o “SER”.

  2. Maria Aparecida Medeiros disse:

    Acho que na vida todos recebem o convite para passar por essas metamorfoses. A diferenca, eh que alguns as passam e retornam ao ponto de partida. Outros se embriagam em um novo horizonte, no absurdo das novas ideias, na irresponsabilidade de ser feliz, nao permanecendo mergulhados nos antigos conceitos. Eh isso que da um verdadeiro sentido a vida!

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