Quando eu Morrer…

* Por Mhanoel Mendes

Há dias, escutei que uma pessoa muito querida faleceu em minha cidade. Foi uma consternação quase que geral, principalmente no meio em que atuou, que foi no futebol e numa empresa estatal.

Logo após a confirmação de sua passagem, pois estava com câncer, começaram as reprises de programas de rádio, de televisão e até os jornais fizeram cadernos especiais com fotos, depoimentos de familiares e amigos. Enfim, foram muitas homenagens que se arrastaram até a beira do caixão, até o momento em que o féretro baixou sepultura.

Lembro-me que um jornalista famoso, ao comentar esta morte, ressaltou que o falecido teria as “justas homenagens”. E foi aqui, nas “justas homenagens” que fiquei refletindo, confesso, ainda continuo pensando, só que agora, colocando minhas ideias no papel.

Com todo esse episódio, fiz um deslocamento longo para o futuro, não sei se longínquo ou não, ninguém sabe, mas pensei sobre o dia em que eu morrer, no momento da minha passagem. Na verdade não se trata do instante, mas o depois. Acho que não sou esse tipo de pessoa que vai ter programas repetidos, cadernos especiais, homenagens a beira do túmulo. Se me fosse perguntado, nem pensaria duas vezes, diria que não quero.

No dia em que eu morrer não quero junto a mim puxa-saco e não quero oportunistas, pessoas que mal me conheciam e vêm fingir uma falsa amizade. Em resumo, não quero oportunistas. Desejo sim, pessoas amigas ou não, próximas ou distantes, mas gente que me conhecia a fundo, sabia da minha luz e da minha sombra e, apesar desta, ainda tinha a coragem de me amar.

Também peço encarecidamente que não me façam homenagens pós-morte, como nome de rua, minuto de silêncio ou  algo parecido. Se alguém tem algo a dizer, se há homenagens a fazer, que se faça enquanto realmente mereça e que seja ainda em vida.

Lembre-se que, talvez, minha doença pode ser de tristeza, pois fiz tanto e ninguém observou nada. Parece que só estavam esperando eu morrer para homenagear, esquecendo-se de que uma homenagem poderia salvar minha vida.

Quando eu morrer, que os ônibus continuem a abrir as portas, os aviões a decolar, os trens a se mover, o sol a brilhar. Se isso ocorrer, vai significar que você está vivo e isso já me deixará contente.

Quando eu morrer, deixa-me seguir minha jornada por outras paragens, por outros planos, conhecer outras realidades paralelas. Quando eu morrer, tudo aqui vai continuar como está, só eu vou estar um pouco mais leve.

Quando eu nasci, no dia 25 de dezembro de 1963, precisamente às 17h30, as famílias estavam mais unidas, crianças nas ruas felizes corriam de um lado pra outro, existia um clima de amor, compreensão e paz no ar. Quando eu morrer, em 2063, quiçá aos 100 anos, que a homenagem novamente ocorra.

Como diz o amigo e poeta J. Marino, quando eu morrer, também não me cortem flores; “não as quero ver agonizante sobre o meu peito”.

* Escritor
www.oikos.org.br e www.obuscador.org

Filipe Colombo

Sobre Filipe Colombo

Formado em Administração com ênfase em Marketing, É conselheiro profissional formado pelo IBGC e possui MBA em administração de empresas cursado nos EUA, China e nos Emirados Árabes. Acumula mais de 20 anos de experiência em gestão de empresas e é autor do best seller “Gestão Profissional na Prática”. Neste livro, são compartilhados ensinamentos, visões e conselhos que são frutos de sua experiência acadêmica e profissional.
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2 respostas para Quando eu Morrer…

  1. Daniel Tomazi disse:

    Dear Mahanoel,

    Lendo teu artigo lembrei-me de algumas situações em que os candidatos a seputura fazem em vida, não sei se devo dizer “comemoram” seu funeral. Isso, parece demonstrar ainda mais a intenção de ver nas pessoas o impacto de sua “morte”, como se quanto mais chorarem mais feliz será em sua partida. Ou indo ao extremo como fez herodes, nomeado procurador da Judeia no ano de 47 a.C que ordenou a morte de todos os nobres da corte do rei para que não faltasse lágrimas em seu velório… Que haja sorriso nos lábios, tantos dos que ficam como nos meus quando meu corpo descer a seputura!
    Abraço e que reine a paz!

  2. Luiz Carlos Joao disse:

    Meu querido amigo. Você foi muito feliz trazendo a tona este assunto. Tem muita gente que usa deste momento como válvula para alimentar seu próprio egoísmo. Nós, como seres humanos um pouco mais iluminados, devemos nos preparar para a hora da partida, todos os atos, elogios, homenagens, enfim, devemos vivenciar, apreciar. Fazerem por nós sem a nossa participação será no mínimo ridículo. Um grande e forte abraço. Fique em paz.

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