Pontes e Muros

* Beto Colombo

Querido leitor, que você esteja em paz. Ouço muitas pessoas falarem da importância das pontes e dos desserviços dos muros. Meu amigo Mhanoel Mendes fala sério brincando ao convidar pessoas para sair por aí derrubando muros e, com a demolição, construir pontes. Quando ele propõe isso, ele quer unir mais as pessoas, afinal de contas, para que serve uma ponte se não para unir? Lembram do nome da ponte que une o Paraguai ao Brasil, em Foz do Iguaçu? “Ponte da Amizade”. De vez em quando ouvimos e lemos nos noticiários, principalmente quando falam em municípios menores e interioranos, que a enxurrada trouxe prejuízos grandes à cidade, arrancando pontes e pinguelas.

De acordo com a interpretação habitual, o termo Pontifex significa literalmente “construtor de ponte” (pons + facere). Este título, talvez, tenha sido originalmente usado em seu sentido literal: a posição de construtor de pontes era realmente importante em Roma, onde as grandes pontes ao longo do Tibre, o rio sagrado, adornadas com estátuas de divindades, eram utilizadas somente por autoridades prestigiadas com funções sacras. No entanto, sempre se entendeu seu sentido simbólico: os pontífices seriam o construtor da ponte entre os deuses e os homens. Existem até universidades que se propõem a isso, que são as PUCs, ou Pontífice Universidade Católica.

Mas nem sempre as pontes unem. Tempos atrás conheci uma família aqui numa cidade do interior onde a ponte teve que ser derrubada para unir. Vou explicar melhor o caso. É que a cunhada, que morava ao lado do irmão de seu esposo, sempre que necessitava de algo passava a pinguela que unia as duas famílias. Abaixo da pinguela passava um pequeno córrego. Até aí tudo certo. Mas a irmã sempre se incomodava quando a cunhada passava a extrema, pegava mantimentos “emprestado” avisando somente dias depois, quando avisava, e jamais devolvia. Resultado: para não brigarem e comprometerem a amizade entre os irmãos e entre a família, a solução sugerida pelo avô foi quebrar a pinguela. Só assim a cunhada teve que dar a volta pela frente e sempre que queria algum mantimento obrigou-se a bater na porta e fazer a solicitação. Nesse caso, a ponte separava.

A lenda dos muros também é interessante e o emblemático é o muro de Berlim, que se manteve em pé de 13 de agosto de 1961 até 3 de outubro de 1990, praticamente 30 anos. Muros servem para separar, dividir, segregar, nos vem a conceituação do senso comum. E é verdade. Mas não de todo.

Recentemente estive em Israel e pude ver in loco, o muro que separa Israel da Palestina. Apesar das controversas mundiais e humanitárias, alguns israelenses e alguns palestinos justificam a construção desse muro de quase 800 quilômetros de extensão e até oito metros de altura dizendo que é para proteger o país dos ataques dos terroristas, coisa que tem se mostrado eficaz. Agora, com esta construção, pode-se detectar realmente de onde vem os ataques e até esclarecer alguns de suas autorias. Feito isso, já há casos onde há uma aproximação de pessoas e cidades, pois se constatou que eram pessoas de bem. Isso é fato.

Refletindo sobre esses dois exemplos, podemos concluir que há pontes que unem, mas há pontes que separam. Que há muros que separam, mas há muros que unem.

É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre pontes e muros?

* Empresário, Especialista em Filosofia Clínica, Diretor Presidente da Anjo
www.betocolombo.com.br

Filipe Colombo

Sobre Filipe Colombo

Formado em Administração com ênfase em Marketing, É conselheiro profissional formado pelo IBGC e possui MBA em administração de empresas cursado nos EUA, China e nos Emirados Árabes. Acumula mais de 20 anos de experiência em gestão de empresas e é autor do best seller “Gestão Profissional na Prática”. Neste livro, são compartilhados ensinamentos, visões e conselhos que são frutos de sua experiência acadêmica e profissional.
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Uma resposta para Pontes e Muros

  1. Carol disse:

    Nossa Beto muito bem escrito e traduz exatamente o que sinto, nem sempre as pontes são boas, pode ser que nem todos estejam preparados para ela, e alguns vão ultrapassar o limete e direito de individualidade do outro, acho que os muros são ainda necessários, desde que não seja apenas uma forma de isolamento mas o direito que o outro se dá de ter sua intimidade preservada.
    Parabéns pelo texto.

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