* Mhanoel Mendes
Como sabemos, os gregos encaravam o tempo de duas formas: o rei Cronos e o rei Cairós. Aquele, Cronos, se referia ao que denominamos, hoje, de tempo de relógio, e este, Cairós, ao tempo que é das coisas, como exemplo um fruto amadurece exatamente no seu tempo. “Há tempo pra tudo”, nos ensina o Livro Sagrado.
Dentro do tempo Cronos, de cronômetro mesmo, passei recentemente por uma experiência que quero compartilhar com você que me honra com sua leitura agora. Mais: quero refletir junto e, se quiseres, saber a tua opinião também.
Imagine a situação. Tinha saído às 7:55h da fisioterapia e procurava no comércio do centro da minha cidade um fone de ouvido para o meu aparelho celular. Corria os olhos nas lojas que já estavam no meu caminho, para ganhar tempo para tomar o ônibus de volta pra casa.
Eram 7:58h quando visualizo um fone compatível com o meu aparelho, até por ser da mesma marca. Tiro o aparelho celular do bolso e me certifico ser o fone correto e era. Percebo, dentro da loja, um movimento. De repente surgem dois jovens atendentes de roupas alinhadas e crachá no pescoço. Não faziam nada a não ser conversar e rir.
Percebendo que me viram, levantei o dedo indicador e depois fiz gestos tentando deixar claro que queria conversar. O jovem, sem olhar para sua colega, aponta seu relógio, e depois mostra dois dedos. Como se dissesse, faltam dois minutos para abrir a loja. E volta a conversar, agora de costas pra mim.
Fiquei ali, num misto de revolta e impotência. Percebendo que tinha cliente e que eles não estavam fazendo nada, o que custaria pelo menos me ouvir? De repente, se confirmasse que eu realmente estava correto e que o fone era compatível, talvez até aguardasse pelos dois minutos.
Respirei fundo e achei um desaforo. Andei mais uns poucos passos e vi outra loja na mesma situação. Como a porta estava fechada, mas não chaveada, a forcei e entrei ao que fui atendido prontamente. “Ainda não abrimos, mas estou a sua disposição, senhor”, disse-me a jovem de cabelos presos.
Resultado: quando saí da loja com fone no ouvido, percebi que só depois disso é que as portas da loja ao lado tinham sido recém abertas.
Há tempo e horário pra tudo. Mas também penso que há tempo e horário para o bom senso.
* Escritor e psicólogo. www.oikos.org.br