O Corpo e o Manto

artigo196* Beto Colombo

Querido leitor, que você esteja bem. Proponho refletir hoje sobre a verdadeira nudez. Acessando ao site do amigo escritor e palestrante Ildo Meyer, deparei-me com alguns escritos interessantes. Refleti muito lendo artigos que ainda reverberam dentro de mim.

Mas tem um em especial que quero compartilhar com o meu leitor, com a minha leitora nesta oportunidade. Trata-se do conto do mestre zen budista e as suas vestimentas. Conta então o conto, que um famoso mestre zen budista havia sido convidado para uma festa, coisa totalmente possível para trazer para nossos dias, para nossa realidade. Conforme sua forma de viver, compareceu vestindo sua modesta roupa, gasta pelo tempo e mal cuidada, mas era ele quem estava ali, não era sua sombra ou quem ele gostaria de ser. Não o reconhecendo, pois todos estavam com roupa de gala, o anfitrião, o mesmo que o convidou, expulsou-o do local.

Diante do fato, então, o mestre voltou para casa. Trocou de roupa, vestiu um manto bordado com pedrarias e retornou para a festa. Desta vez foi reconhecido, exaltado e recebido com toda a pompa, assim como os demais convidados, e conduzido a um local especial reservado para autoridades.

Chegando ao local reservado, não hesitou: tirou seu manto e colocou-o cuidadosamente na cadeira, diante do espanto de todos os presentes, devidamente vestidos. “Não tenho dúvidas de que esperavam não por mim, mas pelo meu manto, já que não me deixaram entrar na primeira vez que vim”. Ato contínuo, nu e em silêncio, o mestre zen budista virou as costas e foi embora.

Parece até que deixamos de ser quem realmente somos para sermos fachada e, dessa forma, praticamente ninguém se expõe verdadeiramente estando nu. O cantor Ney Matogrosso confessou sentir-se muito mais envergonhado durante uma entrevista, onde se encontrava completamente vestido e revelando sua intimidade, do que cantando e rebolando seminu no palco, onde representava um personagem.

Em seu artigo, cujo título é “A Verdadeira Nudez”, Ildo Meyer pondera de que talvez a verdadeira excitação esteja, hoje em dia, em conseguir penetrar fachadas alheias e romper as próprias. Não é fácil, exige cuidado. Quando alguém nos abre a porta e permite ultrapassar as aparências, estamos pisando em local sagrado, no dizer de Emmanuel Lévinas. É preciso tirar os sapatos e estar ciente de nossa responsabilidade.

Portanto, finaliza Meyer, “para se mostrar por inteiro não é preciso ficar nu, é necessário despir a alma e se entregar. Sem medo de correr riscos, mostrar pequenos defeitos, contar segredos íntimos ou expor fraquezas”. Afinal de contas, vale a pena refletir. “Somos muito mais que fachadas. Reduzir-se a um simples manto ou nudez é uma evasão de si próprio, uma alienação de seu eu. Contraditórios ou não, somos uma pluralidade, um infinito a descobrir”. É não ver o que verdadeiramente é, é reduzir ao que se vê, ao explícito. Portanto, pode-se afirmar que “o manto é uma fachada, talvez uma metáfora”.

Quantos mantos precisamos vestir ao longo da existência? Provavelmente muitos. Alguns por vontade própria, é verdade, outros por imposição, não tem como ser diferente. Seja como for, é sempre bom lembrar, os trajamos. Mas, também é bom que se diga que depois de um tempo, os mantos podem colar no corpo e não se consegue mais retirá-los, nem mesmo viver sem eles. Outras vezes os mantos ganham vida própria e passam a ditar os trâmites de quem os usa. É assim como também Ildo Meyer vê.

Empresário, Especialista em Filosofia Clínica, Presidente do Conselho da Anjo Tintas.

Filipe Colombo

Sobre Filipe Colombo

Formado em Administração com ênfase em Marketing, É conselheiro profissional formado pelo IBGC e possui MBA em administração de empresas cursado nos EUA, China e nos Emirados Árabes. Acumula mais de 20 anos de experiência em gestão de empresas e é autor do best seller “Gestão Profissional na Prática”. Neste livro, são compartilhados ensinamentos, visões e conselhos que são frutos de sua experiência acadêmica e profissional.
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