Mordida e Joelhada

DSC_3833* Mhanoel Mendes

Esta semana termina a vigésima edição da dita Copa do Mundo de Futebol profissional. Desde que se iniciou, lá na década de 1930, esta é a segunda vez que ela ocorre no Brasil; a primeira foi em 1950. Mas não é sobre isso que quero discorrer em meu artigo de hoje. Quero sim refletir sobre os desdobramentos ocorridos em dois jogos, destacando duas palavras-chave: mordida e joelhada.

A primeira palavra-chave é mordida e o leitor atento deve logo saber do que se trata. Sim! Da mordida que o jogador Uruguaio Suárez deu no italiano Chiellini, partida esta em que a equipe latino-americana venceu a europeia por 1 x 0. Mesmo sem receber um cartão amarelo e sequer ser marcado qualquer tipo de falta no momento da mordida, Suárez teve uma repreensão exemplar por parte da FIFA, pelo atleta mordedor ser reincidente.

Até aqui, tudo certo? Não! Pelo menos pra mim.

Qual não foi minha surpresa quando, banido da Copa do Mundo no Brasil, o jogador Uruguai é recebido em seu país como um herói. Assim como no túmulo de Airton Sena, do Papa João Paulo II, pessoas, milhares delas, foram até a casa do atleta para se solidarizar. Queriam prestar homenagem ao homem como se ele tivesse desarmado uma bomba e salvado milhares de vidas, descoberto a cura do câncer, enfim, como se tivesse feito um gesto de amor.

Perguntados, os presentes ao ato disseram que Suárez era um herói, um guerreiro, um lutador, um homem de fibra. Destes, provavelmente todos justificavam o gesto do atleta como correto, como algo que deve ser seguido pelos jovens e crianças que ali estavam. Só faltaram dizer a frase ontológica do Maluf: “Morde, mas não mata”.

Outro momento cuja semelhança com o anterior é que também tirou o jogador da copa, foi  o de Zuñiga, da Colômbia,  que deu uma joelhada sem defesa nas costas de Neymar Jr. E que, assim como o outro lance do jogador Uruguaio, o árbitro não marcou falta e sequer deu cartão. Também ele e seus colegas foram recebidos em Bogotá por mais de 100 mil pessoas como heróis. Aqui também é lembrada a frase malufista: “Dá joelhada, mas não mata”.

Assim como Suárez e Zuñiga, que já não estão mais na disputa, Neymar também deixou a competição só que por problemas de saúde. Assim como os dois atletas estrangeiros, o brasileiro também foi recebido na casa dos pais, em São Paulo, por fãs, torcedores e desconhecidos com cartazes, faixas, hino nacional e, é claro, palmas. Prestavam homenagem ao craque brasileiro e davam foras para ele se recuperar e retornar logo aos campos com a alegria e ousadia.

Soárez mordeu e foi recebido com palmas. Zuñiga deu uma  joelhada e foi recebido com palmas. Neymar deixou a competição contundido e foi ovacionado. Quais dessas palmas tem um ensinamento, um aprofundamento das questões humanas? Em quais dessas palmas as crianças e os jovens vão aprender mais? Quais das palmas são um exemplo a seguir?

Ser humano não morde. Ser humano não briga. Ser humano não dá joelhada para tirar o outro de campo. Não nascemos seres humano, nos tornamos. Entre mordidas, joelhadas e palmas vamos construindo a nossa humanidade. É claro que com umas nos desviamos mais do caminho e com outras nos aproximamos da trilha que é de sermos verdadeiramente “ser humano”.

* Jornalista, jardineiro, psicólogo, agricultor, escritor amador e peregrino – www.oikos.org.br

 

Filipe Colombo

Sobre Filipe Colombo

Formado em Administração com ênfase em Marketing, É conselheiro profissional formado pelo IBGC e possui MBA em administração de empresas cursado nos EUA, China e nos Emirados Árabes. Acumula mais de 20 anos de experiência em gestão de empresas e é autor do best seller “Gestão Profissional na Prática”. Neste livro, são compartilhados ensinamentos, visões e conselhos que são frutos de sua experiência acadêmica e profissional.
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