Moro no Oikos, um espaço ecossustentável em Criciúma, sul de Santa Catarina, onde minha companheira e eu trabalhamos com foco no ser integral. Temos yoga, terapias naturais, psicologia e uma programação de eventos diversificada envolvendo o público buscador do autoconhecimento. Aqui, há cerca de um mês, vivi mais uma experiência incrível que quero passar a você, leitor que me honra com sua atenta leitura.
Quando cheguei por essas terra, há 11 anos, não tinha muita prática com a lida do campo. Tinha sim muito entusiasmo e uma grande vontade de plantar, cuidar, transformar. Nesta ansiedade, acabei acertando em algumas coisas, mas errei muito. Contudo, todos esses erros valeram, apesar dos transtornos, pois, só assim, tive um aprendizado realmente vivencial, seja com a horta, com a água (coleta e tratamento), com flores, árvores e animais.
No início do mês de julho fiz algo que queria fazer há anos, que era transportar alguns pés de laranjeiras plantados há mais de cinco anos e que se mantinham quase no mesmo tamanho. Claro, inadvertidamente, os plantei certo, com a “raizinha” para baixo, mas só que embaixo de outros pés de árvores de modos que eles quase nunca pegavam sombra.
Eram exatamente três pés de laranjas, um de laranja lima, outra de ponkan e o terceiro de mexerica. Inicialmente, decidi onde iria transportá-las e só depois fiz o buraco, preparai a terra e o material composto, para, então, começar a transportar uma por uma. Na primeira, no pé de laranja lima, lembrei-me que não seria correto fazer a modificação de lugar sem podar todos os galhos da pequena árvore.
Pensei, refleti, pois nunca havia feito isso. Estava realmente inseguro. De certa forma, com dó da árvore, pois não tinha certeza de que aquela poda, aquele desbaste estava correto. Mesmo assim, ouvi minha intuição. Peguei meu alicate de desbastar árvores e comecei aqui, ali, lá. Na primeira, na segunda e no último pé de árvore.
Pronto! O que era pra ser feito foi feito. Dali pra frente, comecei a visita-las todos os dias. Colocava um adubo orgânico aqui, tirava um matinho dali, regava. Falei com amigos especialistas, como João Marino, e todos me confirmavam que tinha feito a coisa certa.
Mas para ter certeza disso, a única forma de saber era se dos galhos desbastados começassem a surgir brotos e mais brotos. Pequenos, grandes, viçosos, verdes. Enquanto isso não ocorresse ficaria na intenção, na minha boa vontade. Só nisso.
Eis que uma manhã, comum, dessas manhãs que ia visitar as árvores frutíferas, lá estavam eles, os brotinhos surgindo dos troncos desbastados. Pura alegria. Contentamento indizível. Algo inexplicável que me fez refletir: será que educar não é isso?
* Psicólogo e escritor – www.oikos.org.br
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