Reflexões sobre o Clube 299

PBmoto* Mhanoel Mendes

Na quinzena passada escrevi sobre o Clube 299. Trata-se de um grupo de motociclistas que trafega com suas máquinas em rodovias públicas do nordeste brasileiro, principalmente a Paraíba, em velocidade de até 299 quilômetros por hora.

Durante a investigação da Polícia Rodoviária Federal foram encontrados vários vídeos em comunidades da internet onde um piloto vai gravando com sua câmera fixa ao capacete o velocímetro passar os 150, 180, 200, 240, 260, 280, chegando aos 290 km/h. Mas ele não relaxa, quer alcançar os 299 km/h, marca que empresta o nome ao grupo. O mais impressionante, pasmem, é o comentário do piloto que atingiu os 299km/h: “Obrigado Deus”.

Pesquisando um pouco mais e melhor o porquê desse grupo ter esta atitude, mais uma surpresa. Quem chega aos 299 e mostra em vídeo é considerado corajoso. Corajoso, pra mim, é o pai de família que enfrenta as dificuldades, apesar do salário minguado todo mês. Corajoso é a mãe que anda quilômetros com o filho no colo para leva-lo a um posto de saúde. Corajosos são os milhares de jovens e crianças deste imenso país que acordam de madrugada para estudar em escolas embaixo de árvores, com uma professora para duas classes que estudam ao mesmo tempo.

O que o grupo 299 tinha não era coragem, tem outro nome.

Mas as surpresas não param por aí. Além de corajosos, os que provam os 299 nos seus velocímetros, com o feito, também conquistam o “respeito” dos demais membros do grupo. É, respeito!

Respeito pra mim se dá a quem respeita as leis do trânsito, a quem não coloca em risco a sua e nem a vida dos outros. Respeito se dá a quem ajuda pessoas deficientes e velhinhos atravessarem as ruas. Respeito, pra mim, merecem os garis, as domésticas, os motoristas deste nosso Brasil.

O que o grupo 299 tinha não era respeito um pelo outro, isso tem outro nome.

Além de reconhecer a coragem e de ter o respeito do grupo, quem chegava aos 299km/h era tido como uma pessoa poderosa. Poder pra mim é se conhecer, é dizer não às irresponsabilidades. Poder é se calar a uma calúnia, é ficar imóvel a uma agressão; poder é se levantar contra as injustiças.

O que o grupo 299 tinha não era poder, isso tem outro nome.

Ironicamente, a PRF teve acesso a um vídeo surpreendente. Nele, quando um piloto que recém atingiu a marca estipulada chega comemorando junto ao grupo. Ainda montado na sua motocicleta diz: “Obrigado Senhor, pela proteção”.

Coragem, respeito, poder são características de homens que, acima de tudo, respeitam suas vidas e respeitam a vida dos outros. E não são blasfemos. O que eles faziam tem outro nome.

Agricultor, jornalista, jardineiro, psicólogo, escritor e peregrino – www.oikos.org.br

 

Filipe Colombo

Sobre Filipe Colombo

Formado em Administração com ênfase em Marketing, É conselheiro profissional formado pelo IBGC e possui MBA em administração de empresas cursado nos EUA, China e nos Emirados Árabes. Acumula mais de 20 anos de experiência em gestão de empresas e é autor do best seller “Gestão Profissional na Prática”. Neste livro, são compartilhados ensinamentos, visões e conselhos que são frutos de sua experiência acadêmica e profissional.
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Uma resposta para Reflexões sobre o Clube 299

  1. Fernanda Luana Martignago disse:

    Perfeita colocação, muitos valores e conceitos estão invertidos na nossa sociedade e os principais são justamente esses: poder e respeito.
    Ótimo artigo!

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