De acordo com Tagore, há uma grande diferença entre o ocidental e o indiano quando ambos veem uma flor. Às vésperas de entrar na primavera, a estação das flores, penso ser oportuna esta reflexão em meu artigo desta semana.
Natural de uma região denominada de Bengala, na índia, Rabindranath Tagore, destacou-se por seu texto sensível e uma vasta obra ao mesmo tempo que lírica também era engajada, cotidiana. Para o poeta, romancista, músico e dramaturgo, que reformulou a literatura e a música bengali no final do século XIX e início do século XX, esta diferença não está na flor, que pode ser nativa ou até exótica. Pode ser flor ornamental, frutífera, enfim, seja o ocidente que esteja vendo uma flor, ou um indiano, haverá uma postura diametralmente oposta entre um e outro.
Para Tagore, que viajou e conheceu todos os continentes, os indianos, quando veem uma flor, naturalmente as contemplam por tempo, às vezes até horas. Ficam ali, observando os seus detalhes, as suas cores, e até os bichinhos que eventualmente pousam.
De acordo com o artista Bengali, esta contemplação é um gesto de amor e de consciência da inteireza que leva a paz. E que não há diferença do ponto de vista sutil entre o observador e o observado. Ambos fazem parte desta imensidão que é o universo e são corresponsáveis e interdependentes.
Os indianos podem ver, através da flor , as suas belezas, seja a beleza da flor quanto a beleza do indivíduo. Simplesmente belo!
Já o ocidental, ao contrário, pouco para ou nem mesmo para. Não perde muito tempo para contemplar. No máximo, aproxima as narinas para sentir o perfume que vem delas.
Rude, insensível, Tagore fala que o ocidental, ao invés de contemplar, arranca a flor e a coloca em um vaso. Fragmentado, o ocidental pouco ou quase nada contempla , e, agindo assim, é um gesto de desamor e de inconsciência que, infelizmente, pode levar até a guerra.
“Por isso, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores”, fala poeticamente William Shakespeare. Que é seguido por um poeta contemporâneo, João Marino Vieira, que diz no “Epitáfio do Jardineiro”, em seu livro “O Jardineiro”: “Não me cortem flores. Cuidei que as crescessem. Não as quero agonizantes em meu peito”.
* Agricultor, jornalista, jardineiro, psicólogo, escritor e peregrino – www.oikos.org.br
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