Um Sinal estendido no Chão

* Mhanoel Mendes

O carro estava com a porta do motorista aberta. Estendido no chão e de bruço, o corpo de um homem ensanguentado denunciava que o contexto era de violência, de confronto, de morte. No banco do carona, ainda sentado, outro corpo sem vida. Andando de um lado para outro, policiais civis e militares com suas armas pesadas a tiracolo organizam a curiosidade humana, pois aos poucos o local recebe muitos curiosos.

As autoridades, ainda sem muita clareza, pois a ação havia sido organizada em sigilo por especialistas, afirmavam que os dois mortos intencionavam assaltar a lotérica de um supermercado. Antes disso, por intermédio de escuta telefônica, a polícia interceptou o que poderia ser uma catástrofe ainda maior.

Sim, catástrofe, pois sempre que um ser humano tomba, sempre que uma vida é ceifada, sempre que a morte violenta impera e tira a vida de alguém, ninguém mais perde a não ser o próprio ser humano. E não importa onde isso ocorre, se na América, Europa, Ásia ou Oceania, somos todos moradores deste planeta. Claro, descontando aqueles que tiverem oportunidades na luz e decidiram pelas ações na sombra, há os que sequer sabem o que é uma vida de amigos, de abraços, de afago, de amor.

Mas minha reflexão de hoje vem ao encontro do que li nas redes sociais depois do ocorrido. “Bandido bom é bandido morto”, escreviam muitos. “Bandido bom é bandido deitado”, divulgavam muitos outros. E o mais constrangedor: com fotos do ocorrido, inclusive com os jovens mortos, um fora e o outro dentro do carro, como tentei descrever acima.

Quando li esses e outros comentários cujos conteúdos se assemelhavam, confesso que me veio uma grande angústia e logo pensei que, como humanidade, estamos sendo um fracasso e não percebemos isso. Não podemos lavar a criança e jogá-la fora com a água suja. É necessário ver o que está por trás daquele corpo estendido no chão.

Sabemos, todo rio desagua no mar; se isso não ocorrer, o rio deve estar causando alguma enchente lá atrás. Assim também, todo ser humano é, em essência, um ser de luz e de amor, se isso não está ocorrendo é porque ele não está sendo oportunizado – algo está sendo impedido de fluir; quando isso ocorrer, ele acessa seu caminho, sua missão e segue sua jornada em paz. É claro que há os desviados, os desajustados, os doentes, estes devem ser tratados de acordo. Contudo, não podemos misturar estes com aqueles.

Quando um ser humano morre violentamente, não é só ele quem morre, todos morremos um pouco. Quando muitos seres humanos morrem, a humanidade demonstra sua incapacidade perante a vida. Um corpo estendido deixa de ser só isso para ser um sinal, um sinal de que nossa sociedade precisa de ajuda urgentemente, se não, vai sucumbir definitivamente. Daí, não haverá mais ninguém para postar frases sofistas na internet.

* Jornalista, psicólogo, escritor
www.oikos.org.br
www.obuscador.org

Filipe Colombo

Sobre Filipe Colombo

Formado em Administração com ênfase em Marketing, É conselheiro profissional formado pelo IBGC e possui MBA em administração de empresas cursado nos EUA, China e nos Emirados Árabes. Acumula mais de 20 anos de experiência em gestão de empresas e é autor do best seller “Gestão Profissional na Prática”. Neste livro, são compartilhados ensinamentos, visões e conselhos que são frutos de sua experiência acadêmica e profissional.
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Uma resposta para Um Sinal estendido no Chão

  1. Luciano disse:

    Escutei em uma palestra da Desembargadora de Curitiba que nenhuma mãe dá a luz à um bandido.
    Ele irá cometer atos ilícitos e o correto sempre será a pena justa conforme relata expressamente o nosso Código Penal.
    Estes que defender a morto de um agente criminoso estão com suas cabeças voltadas ainda no Codigo de Hamurabi, que nada mais é que a famosa expressão “Olho por olho, dente por dente”! Então, vivem com a cabeça em 2000 a. C.
    Se agirmos contra a lei, estaremos fazendo o mesmo que o bandido.

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