* Mhanoel Mendes
No seminário intitulado A Arte de Viver em Paz, reconhecido pela Unesco como uma das metodologias para a paz no mundo, seminário este que também facilito, o ex-reitor da Unipaz, Pierre Weil, pergunta: qual o contrário de paz? Ao que muitos respondem: guerra!
Com certeza uma reposta lógica, mas aprofundando um pouco mais conclui-se que, assim como o contrário de vida não é morte, é renascimento, o contrário de paz talvez não seja guerra, talvez seja mo-vi-men-to. Se não vejamos.
Uma criança que está amuada, triste, num canto do pátio durante o intervalo de aula está em paz? A resposta é não! Outro exemplo: uma água parada é saudável? Como sabemos, todo rio deságua no mar; se o fluxo parar, a água apodrece. Portanto, paz é movimento.
Este conceito me é bem claro: paz é movimento. Contudo, foi de encontro a uma notícia ouvida recentemente na Rádio Som Maior de Criciúma, onde o alto escalão do Exército Brasileiro denunciou que as munições do país, atualmente, só garantem um confronto com um possível inimigo de não mais que 60 minutos, ou seja, exatamente uma hora. Os comandantes, com isso, querem dizer que o país necessita urgentemente comprar mais munições para que o Brasil possa se defender por mais tempo numa possível guerra. Talvez por 1,5 horas, quiçá duas horas. Isso não é irônico?
Esta informação ficou reverberando dentro de mim. Foi quando fiz uma comparação com os dados do Wordwatch Institute, dos Estados Unidos, que depois de uma grande pesquisa mundial concluiu que são necessários 760 milhões de dólares para erradicar o problema da pobreza mundial, sanar a esterilidade do solo e atacar regiões pobres do planeta devolvendo a dignidade às pessoas, além de criar alternativas para desenvolver tecnóloga para gerar energias ecossustentáveis. Ou seja, o desafio para tanto disparate entre continentes e países tem uma solução e até um orçamento.
Como se não bastasse, o Wordwatch Institute, nesta mesma pesquisa, concluiu que as nações de todo o planeta gastam cerca de um trilhão de dólares para manter seus sistemas de segurança em alerta; aqui estão também as munições que os militares tanto anseiam para o Brasil. São pessoas, armas e munições a espera de uma guerra. Vale lembrar que este um trilhão de dólares é por ano, em contrapartida, os 760 milhões de dólares seriam usados uma vez. Isso não é um contrassenso?
Antes de encerrar, trago uma frase do líder pacifista indiano, Mahatma Gandhi, que dizia: “Não há caminho para a paz, a paz é o caminho”. E começa por declinar das munições e investir em alimentação, em saúde, em ecologia, em energia limpa.
* Escritor
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