Queridos leitores, que vocês estejam bem. Voltei de Portugal recentemente, onde fui fazer estudos em Filosofia Clínica. E retornei com alguns CDs de Fado, a música que tem a cara da nossa gente portuguesa. Escolhi alguns artistas, com destaque a Amália Rodrigues e Mariza, esta conhecida como sucessora de Amália.
O Fado é uma canção de lamento. Suas letras são geralmente carregadas de profundas melancolias e alguns pensam que é só tristeza. Talvez o tango argentino nas Américas seja, em tese, o que o Fado tem para a Europa.
Geralmente quando passo longos períodos ouvindo Fado, fico introspectivo, pensante, quieto e gosto de me sentir assim, pensativo, reflexivo. É desse jeito que ouço com mais nitidez meu coração e minhas emoções.
E foi justamente isso que aconteceu no último sábado. Depois de ouvir por diversas vezes o Fado de “Valsa dos Amantes”, de Jorge Fernando, senti-me meio down. Reconheci e acolhi esse sentimento em mim.
Só uma pequena amostra da música: “Não penses que te vejo como outrora, a vida esgota a vida hora a hora. O tempo gasta o tempo e marca a gente, o espelho mostra como eu estou diferente, não estou novo, não sou novo. Mas não peças que a vida te apague do fundo de mim”.
Depois de ouvir, de degustar essas palavras e deixa-las reverberar dentro de mim, saí a caminhar pela praça próxima a minha casa. Ia cabisbaixo, pensativo, quando logo me veio a mente um texto de Fernando Pessoa: “Ah! A imensa felicidade de não precisar de estar alegre…”
Era assim que eu me sentia naquele dia: não estava alegre, apenas isso, e queria continuar assim por algum tempo, ali, agora, sentado no banco da praça. Queria curtir aquele sentimento introspectivo. Não consegui, fui abordado por dois conhecidos que me tiraram a liberdade de estar comigo mesmo.
Você já reparou que existem pessoas que simplesmente não admitem que você fique triste e já vão contando piadas, te cutucando? Da próxima vez, talvez, assuma este sentimento no cemitério, pois me parece que é o único lugar onde podemos estar tristes e até chorar, sem que ninguém nos importune.
Lembro-me no Caminho de Santiago quando passei um dia assim, reflexivo, sem quase falar nada e nem querendo ouvir nada. Como foi terapêutico. Por isso, quando percebo alguém assim, o respeito e até o admiro.
Lembrando que isso é assim para mim hoje.
* Empresário, Especialista em Filosofia Clínica, Diretor Presidente da Anjo – Blog Beto Colombo
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