Sua Santidade o Dalai Lama tem uma frase simples e extremamente profunda que não me canso de repetir: “O que todos os seres humanos têm em comum é que todos querem ser felizes”. Se isso é verdade, e eu assim acredito, então por que sofremos?
Baseado no livro O poder curativo da mente, de Tulku Thondup (Ed Pensamento), que escreve de acordo com a visão Budista nyngma, nossa mente cria a experiência tanto de felicidade como de sofrimento, e a felicidade de encontrar a paz está dentro de cada um de nós. Todo aquele que compreender isso e buscar movimento nesta direção já está no caminho da sabedoria.
Para entender um pouco mais, mister se faz necessário dizer que o Budismo se articula sobre o princípio das duas verdades: a verdade absoluta e a verdade relativa. Aquela, a verdade absoluta, é que a verdadeira natureza da nossa mente e do universo é iluminada, tranquila e perfeita. Já esta, a verdade relativa ou convencional, é que em todo o espectro da vida cotidiano – do nascimento até a morte, que os budistas chamam de Samsara – o mundo é lugar de sofrimento, de mudança incessante e de ilusão, porque a face da natureza verdadeira das coisas foi obscurecida pelos hábitos mentais e tribulações emocionais, cujas raízes estão fincadas no nosso apego ao “eu”.
Este apego, este “eu”, não é somente a imagem que tenho de mim, mas de coisas como dinheiro, posses e até ideias. Assim, se nos apegarmos a estas “coisas” vamos considera-las de maneira dualista, como um sujeito apegando-se a um objeto. A partir daqui, a mente começa a diferenciar, separar e até a rotular as coisas como na ideia de que “eu” gosto, e não gosto “daquilo”. Se pensarmos em isso é bom, surge o apego; se pensarmos aqui não é bom, a dor pode surgir.
Podemos ansiar por algo que não temos ou temer a perda do que temos, ou então, sentir-nos deprimidos por tê-lo perdido. Com o progressivo enrijecimento da mente a partir dessas experiências desde a tenra idade, sentimos uma crescente excitação ou dor, e temos então o ciclo do sofrimento
Com nossa mente “relativa” ou corriqueira, apegamo-nos ao eu como se ele fosse firme e concreto. Contudo, o eu é uma ilusão, visto que tudo que se encontra na experiência do Samsara é transcrito e mutável e caminha para a morte. “Nada do que foi será de jeito que já foi um dia”… A nossa mente corriqueira encara o eu como algo que de fato existe como entidade independente. Na visão Budista, no entanto, o eu não tem existência real; ele não é algo fixo e sólido, mas uma mera designação rotulada pela mente. “Tudo muda o tempo todo no mundo. Não adianta mentir nem fingir pra si mesmo”.
Então, resumidamente, por que sofremos? Sofremos porque nos apegamos. Nos apegamos a uma falsa imagem do eu, de um eu sólido e concreto que na verdade está em transformação, sempre. Enfim, só sofremos porque nos apegamos. No dizer do poeta, todo rio desagua no mar, ele não se apega às margens. E se tentarmos controlar, adoecemos, sofremos.
* Jornalista, agricultor, psicólogo, jardineiro, escritor e peregrino – www.oikos.org.br
- 5 Passos de Como Preparar Tinta Automotiva: Guia Completo! - 14 de outubro de 2024
- Cores para Escritório: Tons que Influenciam a Produtividade! - 11 de outubro de 2024
- Tipos de Pintura de Parede Externa: Guia Completo! - 10 de outubro de 2024