* Mhanoel Mendes
Até há não muito tempo atrás, eu era um crítico daqueles que viajavam e levavam até o seu travesseiro junto. Na verdade, no final, já estava sendo mais gozador que crítico. Na minha cabeça, algumas pessoas, às vezes, eram tão apegadas que não viajavam sem uma bigorna, sem um paraquedas, sem guarda-chuva e, é claro, sem travesseiro.
A despeito do tí
tulo desse artigo, vale uma ressalva. Escreve-se travesseiro mesmo. Embora no cotidiano, em algumas regiões, a fala é com “b”, ou seja, “trabesseiro”. Com “V” ou com “B”, este é o assunto do meu artigo de hoje. Voltemos ao travesseiro, com “v” de voltar e com “v” de travesseiro.
Antes de ter passado por uma experiência incrível, onde mudei totalmente a minha forma de pensar sobre carregar consigo o travesseiro, percebia, em algumas pessoas, esta sina de se apegar as coisas e tentar levar tudo em uma viagem, por menor que fosse ela. Com isso, enchem demais a mochila, o carro, a mala, e, infelizmente, elas praticamente não viajam.
Avaliava que uma pessoa que viaja e leva até o travesseiro é alguém fechado a novas experiências, uma pessoa de mala e consciência pesadas. Que alguém que vai pra um lado e pra outro com o seu travesseiro embaixo do braço é alguém que não vai muito longe.
Ao contrário dessas pessoas, eu nunca levava o travesseiro. Dormia ao relento, aqui, ali e até acolá. Viver sem travesseiros é ser livre, pensava. É correr riscos e seguir adiante após o dia seguinte.
Passei quase toda a minha existência até aqui sem colocar nome em travesseiro, sem marca-los e sem me apegar a um. Achava o cúmulo. Por mim, até jogava as plumas do travesseiro ao vento só pra vê-lo vazio e, assim, me sentir mais pleno, mais cheio e mais leve ao mesmo tempo.
Recentemente conheci um grande mestre na arte da postura, o fisioterapeuta Dr. Rubens Araújo, de São José dos Campos, e o mesmo mostrou-me várias posturas, dentre elas a de dormir. Confesso que até tinha o conhecimento, mas, diante do meu problema com a cervical, resolvi mudar. Os ensinamentos passavam pelo tipo, tamanho e até altura do travesseiro. Inclusive se dormia de lado ou de barriga pra cima; de bruços, nem pensar.
Diante de todo o conhecimento adquirido e acoplado ao meu cotidiano, agora tenho o meu travesseiro ideal, inclusive coloco uma toalha de banho dobrada dentro da fronha pra ficar no tamanho ideal. Assim, onde vou, lá estou eu com o meu travesseiro ideal de baixo do braço.
Parece que tudo sai da gente e volta pra gente. Hoje, já não tenho mais o mesmo olhar, a mesma criticidade contra aqueles que onde vão levam seus travesseiros, afinal de contas eu sou um deles. Já olho com afeição, entendimento e compreensão. E sei que posso ser livre, desapegado e cabeça aberta com o travesseiro preso na mochila.
* Mhanoel Mendes é psicólogo e escritor
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