* Beto Colombo
Querido leitor, que você esteja em paz! Nosso tema de hoje é sobre o último grande desejo, situação de algumas pessoas que, ao descobrirem que estão com poucos dias de vida, manifestam desejos, no mínimo, interessantes. Talvez podemos até refletir sobre o valor das coisas em determinadas situações e momentos da existência.
O tema do artigo de hoje surgiu em consultório. É que, de vez em quando, recebo pacientes terminais, embora concentre minha atenção a empreendedores, enfim, aos empresários que buscam olhar de fora seus negócios. Minha experiência pragmática na sigilosa conversa terapêutica e também em estudos publicados pela academia, demonstram que praticamente a totalidade dessas pessoas que descobrem uma data em que vão morrer, simplesmente param de fazer o que estavam fazendo e se voltam a si.
Lembro-me da passagem bíblica onde um anjo anuncia a dois agricultores que no dia seguinte vão morrer. O primeiro para de carpir e vai pra casa: “Quero dizer a minha esposa e filhos que eu os amo. Quero falar a meus familiares que eles me são muito importantes”, disse um. O outro, tranquilo, continuou o plantio na terra arada. “Tudo o que era para ser dito e vivido já foi, estou contemplado”, comentou o outro.
Também não posso de deixar de lembrar do partilhante que, agonizante no leito, disse pra mim que só queria ter a chance de tomar um sorvete com o filho. “Veio verão e foi verão e eu nunca o convidei para tomar sorvete na esquina de casa”, falou emocionado. Já outra, ainda em tratamento de câncer e com grandes possibilidades de cura, disse que se tivesse a vida de volta andaria mais leve, curtiria mais as pessoas e não endeusaria nada as coisas.
Uma senhora partilhante me confidenciou, já sem as duas pernas, amputadas devido a trombose, que na noite anterior tinha sonhado com o esposo falecido. “Estávamos alegremente dançando dentro de uma roda de familiares e amigos”, falou. Isso, sem falar no bonito exemplo de um partilhante que lembra emocionado do irmão, cujo último desejo era andar descalço a beira mar. Infelizmente, não conseguiu. Para compensar, seu irmão gêmeo procura compensar e, sempre que pode, caminha descalço na praia e seu pensamento vai direto ao irmão falecido.
Talvez esse seja o momento de nos perguntarmos: como estamos vivendo? O que estamos fazendo de nossas existências, se estamos comunicando ao outro nossos sentimentos ou vamos aguardar o último suspiro para dizer que as amamos, que elas são muito importantes pra nós? Pode ser que não haja tempo para isso. Mais: pra que esperar ficar tetraplégico para se inebriar com o cheiro adocicado do mato frio que vem ao nosso encontro na estrada, saborear o alimento que se apresenta em nosso prato, curtir os momentos, os instantes como únicos?
É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre a simplicidade da vida?
* Empresário, Filósofo Clínico, Diretor Presidente da Anjo
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