A saga do antropólogo estadunidense, Carlos Castanheda, convivendo anos na década de 1960/1970 com o xamã mexicano, dom Juan Maltus, é, no mínimo, instigadora para todos nós buscadores deste mundo D’Eus. Enquanto tentava entender o efeito das plantas alucinógenas na vida dos nativos, enveredou-se numa jornada de autoconhecimento, de encontros e desencontros que mexe com todos que entram em contato com esta experiência. A partir do encontro com Dom Juan, Castanheda mudou o foco da “lanterna”, ou seja, deixou de focar fora para iluminar dentro.
Dom Juan Maltus falava do caminho do guerreiro, não do guerreiro de armas, mas do combatente de si mesmo. Daquele que vai ao âmago da sua alma, que atravessa o deserto da existência, que vivencia a tristeza medular e que, por isso, também conhece a alegria verdadeira.
Mas o maior ensinamento do índio, pra mim, foi o que muitos mestres falam do caminho do meio, do meio termo. Nem tanto ao céu, nem tanto a terra. Para Dom Juan essa maturidade significava o caminho do coração. Num dos ensinamentos mais belos e lúcidos, o índio disse a Carlos Castanheda que na vida só existem dois caminhos, para a surpresa do antropólogo que imagino tenha questionado: – “Quais?”
– Na vida só existem dois caminhos e ambos levam a lugar algum, disse Don Juan. Que finalizou: “Mas só um tem coração”.
Nossa, esta frase soou no meu coração como uma chave. Ele se tocou, virou o tambor, abriu, mas no início ficou assim, aberto, sem entender nada. Na verdade, quem não entendia era a mente, pois o coração já sentia. Depois, quando entendi, percebi que já sentia o ensinamento antes de compreender.
Por ora, e isso me dá uma leveza, sinto – e é só um sentimento meu, nada me garante que era assim mesmo que ele pensava – que o que Dom Juan queria dizer á que na vida tem o caminho do ego e o da simplicidade, da fragmentação e da inteireza, da confusão e da harmonia, da sombra e da luz, do bem e do mal. Há o caminho que gastamos energias infinitas para caminhar e outro do fluir, do planar. Sempre há opções para seguirmos e que a cada um cabe decidir e depois arcar com as consequências. Mais: que nenhum deles está errado. Afinal de contas, dizia Roberto Crema, não existe caminho errado, todo caminho leva a algum lugar.
Portanto, na vida há sempre (ou no mínimo) dois cominhos; é verdade! E ambos vão levar a lugar algum. E este lugar algum, pra mim, é o fim, é a nossa passagem para outra existência, é nossa transmutação terrena. Por isso, por que tanta prepotência, tanta arrogância, se da terra viemos e pra terra voltaremos? Todos! Eu, você, a presidenta Dilma, o presidente Obama, o Papa… Todos.
Continuando com a frase: “Na vida só existem dois caminhos e ambos levam a lugar algum. Mas só um tem coração”. É isso. Este é o segredo. Já que ambos levam ao mesmo fim, que tal então trilharmos um caminho que faça sentido pra cada um de nós, que nos arrepie, que nos entusiasme, que nos motive a viver mais e melhor? Que tal nos observarmos em cada gesto, em cada ação e sentirmos como está o nosso ânimo, o nosso estado de felicidade a nossa entrega real no que estamos fazendo neste momento? Este talvez seja o segredo: “Só um caminho tem coração”. “Vá onde está o seu coração”, ensinava Confúcio. Onde está o seu coração, caro leitor?
A professora Lúcia Torres, diretora da Unipaz-Sul, sempre fala que crescer dói. E dói medularmente. Mas não existe outra razão para vivermos se não crescermos como seres humanos espirituais que têm experiência física, não como seres físicas que eventualmente têm experiências espirituais, lembra Deepak Chopra. É só observarmos as árvores. Elas nascem, crescem para cima, para a luz.
Crescer dói, mas vale a pena, pois este é o único caminho que devemos seguir nesta existência, rumo a nós mesmos, ao nosso encontro, ao paraíso prometido. Estas são algumas das minhas ideias que penso e procuro agir neste momento, amanhã posso mudar. Não quero que você concorde ou discorde, só desejo que você me entenda.
* Psicólogo e escritor
www.oikos.org.br
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Mhanoel, consta em alguns escritos que o Carlos Castaneda era brasileiro nascido em 1935, na cidade, hoje chamada, Mairiporã. Li alguns livros dele e acho que ele é antes de tudo um excelente escritor.
Mas estou lhe escrevendo principalmente para falar sobre esses “caminhos”, o “do meio” e o “do coração”. Sempre tive vontade de entender o que queriam dizer com essas expressões, principalmente os budistas.
Entendo o que você quis dizer sobre “o caminho do coração” ou “o caminho que tem coração”, como um caminho significativo, com significado profundo para nós. Compartilho de seu ponto de vista. E gostaria de fazer uma conexão, do meu ponto de vista, entre essas duas expressões. Mas é só mais um ponto de vista complementar.
Para mim o caminho do meio tem a ver com o ponto zero. “Do meio” não significa que está entre minhas opções e visões, na busca de um equilíbrio entre o que “eu sei”. Mas sim um estado em que não me fixo a nenhum pensamento, conhecimento, … quando estou no ponto zero. É como se soltasse, deixasse por hora, religião, profissão, formação, etc. etc. etc.. Só ai posso ver o que é real, o que está na direção da verdade, só aí poderei ver o vale a pena, o que tem valor pra mim, o que tem significado profundo… o que tem coração.
Parabéns pelo artigo. Grato!
Querido amigo e ir-mão Itamar, paz!
Que bom nos encontrarmos também aqui.
Confesso-te que já tinha ouvido falar que Castanheda fosse brasileiro, mas nunca dei importância; mas a tua colocação reabre uma senda de interrogação novamente em mim.
Sobre tuas colocações, perfeitas. Pra mim, por ora, o caminho do meio não é o “3” entre o “5”, mas uma linha, uma reta, um ziguezague entre todos eles, sem se apegar e nem rejeitar nenhum.
O caminho do coração é aquele onde há sentido, onde há arrepio, onde há entusiasmo (in+theo = o deus que vem de dentro). E isso não quer dizer que é só emoção (sentimento), pode ter também sensação (corpo) e pensamento (mente).
No mais, estamos juntos. Perto ou longe, na palavra e no silêncio, na escita e no desenho, estamos juntos.
Com admiração,
Mhanoel Mendes Vieira.
Talvez seja isso, seja o ponto “zero”; o zero entre todos os números, pra continuar com a metáfora acima.