Querido leitor, que você esteja em paz. Recentemente tive um diálogo com um jovem adulto que compartilho com você neste momento. Ele, profissional liberal, me confidenciava que quando ainda era pequeno acreditava que seu pai não o amava.
Agora, no alto dos seus 35 anos, olha para trás e não julga aquela criança que pensava nisso lá atrás, até porque uma grande injustiça que às vezes fazemos conosco é nos julgarmos lá no passado com a cabeça que temos hoje. É injusto, você não acha?
Dizia o jovem que acreditava nisso porque seu pai quase nunca estava presente, já que era caminhoneiro. A referência masculina, de pai, estava ficando um pouco ausente e ele se rebelava com essa realidade.
Lembrou que em muitas ocasiões, só para chamar a atenção, provocava notas baixas na escola, saía sem dizer, voltava em horários incertos. Enfim, era uma criança rebelde, um adolescente irreverente.
Contudo, lembra este homem, que o grande dia em sua vida ocorreu no início da juventude, lá entre os 14 e 15 anos, ele não tem certeza do tempo exato. A situação parecia se desenrolar como mais uma corriqueira, mas mudou a sua vida. Na verdade, diz ele, a transformou. Tanto é que é tida como a experiência mais bonita de sua vida.
Diz ele que era verão e seu pai, surpreendentemente, permanecia em casa por mais de dois dias. Era final de tarde e ele gritou da rua para sua mãe que estava dentro de casa: “Vou brincar no vizinho”, e começou a se dirigir para a casa do amigo que ficava poucos metros dali. Lá de dentro da casa ele ouve uma voz masculina dizendo: “Você não vai não. É quase noite e é hora de se recolher”.
Já meio distante, ele teve dificuldades de ouvir. Mas, pelo tom, teve certeza de que era a voz de seu pai e que ordenava firmemente para voltar para casa. Em resumo, estava recebendo um “não”.
Aquela desconfiança de que seu pai não lhe amava, não ligava para ele, tudo estava se esvaindo, se dissipando com aquele “não”. Em seu lugar, a certeza de que era amado pelo pai, que seu progenitor se importava sim com o filho.
Fazendo um tipo, do lado de fora de casa, o menino ainda tentou argumentar, mas parou diante da postura firme de seu pai. O menino deu meia volta e retornou para dentro de casa. Voltou que não cabia dentro de si diante de tanta alegria, de tanta felicidade, plenitude e harmonia.
Com toda esta situação ressignificada, sóbrio e tranquilo, hoje o jovem olha para trás e agradece. Agradece seu pai pelo não mais transformador da sua existência.
Lembrando que isso é assim para mim hoje.
* Empresário, Especialista em Filosofia Clínica, Presidente do Conselho Consultivo da Anjo – Blog Beto Colombo
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Beto, acompanho seus artigos há algum tempo, e esse foi um dos mais comoventes que eu já li. Concordo plenamente com o texto: um “não” também é mostrar carinho. Um “não” significa preocupação e educação. Um “não” transforma a vida dos homens. Parabéns pelo trabalho.