Kairós

* Beto Colombo

Querido leitor e querida leitora, você tem um tempinho para refletirmos sobre o tempo? Para os filósofos há duas formas de medir o tempo. Uma delas foi inventada por homens que amam a precisão dos números: matemáticos, astrônomos, cientistas, técnicos. Foram eles que fabricaram ampulhetas, relógios, cronômetros, calendários. É o deus Cronos.

A outra forma foi criada por homens que sabem que a vida não pode ser medida com calendário e relógios. Para esses, a vida só pode ser marcada com a vida. No livro bíblico Cântico dos Cânticos, os amantes marcavam o tempo do amor pelos frutos maduros que pendiam das árvores. Quando as folhas dos plátanos ficam amarelas, sabemos que chegou o outono. Os ipês rosas e amarelos anunciam o inverno. Às vezes fico a pensar: qual é a magia que informa os ipês, todos eles, em diferentes lugares, que é hora de perder as folhas e florescer? Aqui entra o deus Kairos.

Um é o deus Cronos, o mental; o outro é o deus Kairos, que é mais sutil, relativo. Hoje, vamos nos ater mais  a este, o deus Kairos ou Kairós. Nesse modo kairo de se medir, o tempo do amor se marca com o corpo. Aqui o tempo aparece como um fruto que vai sendo comido: é belo, é colorido, é perfumado. O tempo da vida se marca por alegrias e tristezas. Há inícios e há fins.

Platão nos diz que o tempo é uma imagem móvel da eternidade, sendo também imutável e metafísico. O futuro é uma muleta, construído pelos nossos anseios. Passado, presente e futuro é um eterno movimento. Tudo é somente um! Um instante na mente do supremo.

Há um povo denominado de Tuareg que vive há milhares de anos no deserto e que mantém preservada sua cultura. Numa visita a Paris feita há anos por um membro daquele povo, foi lhe perguntado sobre a questão do tempo, e este respondeu: “Todos os dias, um pouco antes do pôr-do-sol, a temperatura abaixa, mas ainda não chegou o frio, os homens e os animais lentamente voltam para o acampamento e seus perfis são recortados em um céu cor de rosa, azul, amarelo, vermelho, verde… É um momento mágico. Entramos todos para cabana e colocamos o chá para ferver, sentamo-nos em silêncio, a ouvir a ebulição… A calma invade a todos nós, e nosso coração bate no ritmo do ruído da fervura… Que paz!”, lembra o nativo.

“Outra coisa que me chocou aqui na Europa”, continuou aquele simples homem, “foi ver as pessoas correndo pelos aeroportos. No deserto só se corre quando vem uma tempestade de areia, aqui eles correm apenas para apanhar suas malas”. E para que correm? Será que as malas vão fugir? Será que estão com pressa para chegar em casa e ver televisão? Será que estão com pressa para ganhar mais dinheiro? Por que será?

Finalizo com Mário Quintana quando disse no alto dos seus 80 anos que “se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio”. Ele afirma que “seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas”. E finaliza: “Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, pois a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.”

É assim como o Kairos é para mim hoje. E para você, como passa o deus Kairós?

* Empresário, Especialista em Filosofia Clínica, Diretor Presidente da Anjo
www.betocolombo.com.br

Filipe Colombo

Sobre Filipe Colombo

Formado em Administração com ênfase em Marketing, É conselheiro profissional formado pelo IBGC e possui MBA em administração de empresas cursado nos EUA, China e nos Emirados Árabes. Acumula mais de 20 anos de experiência em gestão de empresas e é autor do best seller “Gestão Profissional na Prática”. Neste livro, são compartilhados ensinamentos, visões e conselhos que são frutos de sua experiência acadêmica e profissional.
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