Querido leitor que você esteja bem! Nosso tema hoje é o outro no ver do filósofo Emmanuel Lévinas. O “outro” é solo sagrado e, para entrar nele é necessário tirar as sandálias, ou seja, deixar no lado de lá da porta todas as nossas previsões, nossos preconceitos, enfim, desconsiderar o que pensamos e achamos do outro e tentar vê-lo verdadeiramente, enfim, enxergar nua e cruamente que está ali, em nossa frente, dialogando, se expondo.
Faço um deslocamento longo e vou lá no Caminho de Santiago, trilha mística de 800 quilômetros que fiz em 2007. Durante 30 dias caminhei rumo à Casa do Santo, mas, verdadeiramente, caminhei mais ainda rumo a mim mesmo. Caminhantes como eu, usa o fora como desculpa, na verdade caminhamos ao encontro de nós mesmos.
Durante este tempo, encontrei muita gente que entrou em meu caminho e saiu. Foram homens, mulheres, jovens de todos os lugares que se possa imaginar, mas tem três deles que quero mencionar em nosso artigo de hoje. Falo de três jovens senhores poloneses: Carol, Heiko e Waclaw. Durante pelo menos 15 dias, sempre me deparei com eles, às vezes caminhando, às vezes no refúgio. Em uma ocasião, inclusive, tomei com um deles, Carol, uma garrafa de vinho em um copo de iogurte, pois não encontramos nenhum outro recipiente.
Lembro-me que falávamos sobre todo tipo de assunto, desde filosofia a trabalho, de religião a espiritualidade, de futebol a carnaval, de óleo de oliva a vinho. Era um papo muito agradável, ainda mais que eles se alternavam na conversa. Cheguei a pensar que eram três irmão, mas não quis me intrometer na vida deles e não perguntei o que faziam. Soube apenas os nomes, que eram poloneses e conheci muito das suas ideias.
Quase em Santiago de Compostela, precisamente no Monte do Gozo, nos hospedamos naquele domingo de verão europeu, dia 29 de julho, meu aniversário e lá estavam os três poloneses como vizinhos. No final da tarde, fui à capela para celebrar a data e participar de uma missa e qual não foi minha surpresa quando vi os três presidindo a missa. Eram padres!
Faço esse relato agora para refletir sobre o fato de que como não tinha a informação de que eles eram religiosos, não os reduzi a isso. E, dessa forma, pude ter um contato verdadeiro com eles e eles comigo. Sim, verdadeiro porque não os reduzi a possível e imaginária batina, eu fui além. Mais: eles também tiveram a sensibilidade de deixar a ocasião os apresentar, bem ao contrário de mim que comecei o caminho me apresentando como empresário só faltou vender tinta nos primeiro dias. Como resultado desse apego, bolhas e mais bolhas e o caminho não entrava em mim. Quando senti e entendi, quando saí do meu papel existencial de empresário, passei a ser peregrino, amigo, pai, filho, estudioso e também empresário. As bolhas se foram e o caminho me permeou cada célula, cada molécula, cada átomo.
Talvez seja isso: quando reduzimos o outro ao seu papel, quando deixamos de ver o outro de forma inteira, o perdemos. O outro é muito mais que o seu papel, às vezes único papel, como médico, pedreiro, dentista, carpinteiro, advogado, empresário. Ele é muito mais. Nós somos muito mais.
É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre enxergar verdadeiramente o outro?
* Empresário, Especialista em Filosofia Clínica, Presidente do Conselho da Anjo Tintas.
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