Querido leitor, que você esteja bem e em paz. Algumas pessoas deixam para trás, ao longo da vida, uma série de projetos não terminados. Começam e não terminam um livro, uma relação, uma faculdade, um curso de línguas. Há pessoas que, inclusive, deixam o projeto como aquele pedreiro que iniciou a casa, fez a fundação, levantou as paredes e parou. Faltou somente o telhado.
Para a Filosofia Clínica, essas são conhecidas como pessoas de “discurso incompleto”, ou seja, indivíduos com um discurso que não tem início, meio e fim. Os discursos incompletos mais evidentes são de pessoas que iniciam, chegam ao meio, mas não findam, não levam a um termo, deixam para trás, pela metade.
Há, no entanto, discursos incompletos que não são evidentes, pois o discurso da pessoa tem meio e fim, mas não o início. São, para a Filosofia Clínica, pessoas que conseguem pegar um projeto em andamento e o conduz até um fim, como alguns administradores.
Para aqueles que observam de fora, parece que o discurso é completo, mas falta-lhe o início. Esse mesmo administrador jamais conseguirá começar uma empresa, mesmo sendo extremamente hábil para dar seguimento ao que já existia, falta-lhe o discurso completo.
Outros casos são pessoas que conseguem começar e terminar, mas não têm paciência para o meio do discurso. Você, com certeza, deve conhecer diretores de grandes empresas que dão início a projetos e deixam o meio para outras pessoas rechearem. Estes também, aparentemente, são tidos como pessoas de discurso completo, mas a falta de meio só fica evidente quando elas não têm quem dê seguimento. São pessoas que conseguem começar uma empresa, mas ela vai à falência por não conseguirem fazer o meio.
O discurso incompleto pode fazer parte da vida de uma pessoa como um todo, assim como pode participar de apenas parte de sua vida. É o caso de um funcionário que, como administrador, inicia bem os projetos, dá boa continuidade, mas não consegue finalizar. Ao mesmo tempo, as coisas em sua vida pessoal têm início, meio e fim. A diferença é que na relação com a família, ele não é administrador, mas é pai, marido, enfim, nesses papeis ele tem discurso completo.
Não há nada de errado em ter discurso incompleto, mas é interessante que as pessoas que convivem com ela percebam isso. Uma empresa pode estar contratando um funcionário com data de validade. Quando chegar a hora, ele simplesmente abandonará a empresa, seus projetos, como um comportamento padrão em sua existência. Se a empresa sabe disso, pode aproveitá-lo onde essa característica seja uma qualidade e não um defeito.
Não há regras, não há certo nem errado, para cada um é diferente. Mas saber que algumas pessoas vão embora antes do fim pode evitar muitas mágoas e até prejuízos. Lembrando que isso é assim para a Filosofia Clínica.
* Empresário, Especialista em Filosofia Clínica, Diretor Presidente da Anjo – Blog Beto Colombo
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