* Beto Colombo
Querida e querido leitor, minha saudação. Hoje vamos refletir sobre nosso corpo. Vale lembrar que para alguns o corpo é sagrado, é o lar da alma. Já para outros, nem tanto, pois se drogam, não fazem exercícios, enfim, definham a cada dia sem dar a atenção para um equilíbrio entre mente, corpo e espírito; entre pensamento, sensação e sentimentos. Para cada um é de um jeito.
Refletindo um pouco mais sobre o corpo, lembro de quando fiz o caminho de Santiago. Mesmo após os treinos, senti muito desconforto com a mochila principalmente nos primeiros dias, na primeira semana. Teve um tempo que ela já estava mais familiar e lá pelo meio da caminhada não sentia mais nada dela nas costas, já fazia parte de mim, já fazia parte do meu corpo. Incorporou.
Trago um amigo que teve que amputar as duas pernas, primeiro a direita e uns anos mais tarde a esquerda. Ambas foram cortadas na região próxima à virilha. Lembro que meu amigo reclamava muito de dores nos pés. Embora retirados, as pernas e os pés ainda faziam parte dele.
Não posso deixar de trazer a esta reflexão o exemplo do meu primogênito Filipe. Criancinha ainda, quebrou o braço esquerdo e vivia reclamando do gesso que após 40 dias foi retirado. Qual não foi nossa surpresa que logo após retirar o gesso chorava copiosamente querendo o gesso de volta, pois já fazia parte do seu corpo.
Mas afinal de contas, onde está o nosso corpo? Até onde ele vai? O filósofo e economista inglês John Stuart Mill, defensor do utilitarismo, um dos pensadores liberais mais influentes do século XIX comentou: “O indivíduo é soberano sobre o seu próprio corpo e mente”. Corri os olhos sobre este pensamento e de chofre me veio uma pergunta: Será que realmente somos soberanos sobre nossos corpos e mentes?
Não teve como não me lembrar de um colega que há alguns anos jogou uma pelada de futebol comigo. Foi massacrado no campo, recebendo bordoadas, chutes e até socos. Saiu abraçado com seus opositores dizendo que futebol é isso mesmo. Ele só ficou possesso quando um desses trogloditas colocou o pé sobre o estribo do seu fusca ano 1963 totalmente recuperado, que reluzia ao sol. Causar lesões em seu corpo até vai, mas descansar o pé sujo no estribo da relíquia, isso não. O carro, neste caso, não é uma extensão de seu corpo? O automóvel, aqui, não tem melhor cuidado que a si próprio?
“Zapeando” um pouco os meios de comunicação, para ficar no televisivo, seja ele canal aberto ou fechado, vale também refletir: quem realmente é o dono do nosso corpo? Até onde vai nosso controle sobre ele?
Somos nós mesmos os soberanos sobre nossos corpos ou é a mídia, a tv, a moda, as agências de modelos?
É assim como o mundo me parece hoje. E você, é soberano sobre o seu corpo?
* Empresário, Especialista em Filosofia Clínica, Diretor Presidente da Anjo
www.betocolombo.com.br
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