Trabalhei, com muito orgulho e alegria, durante 17 anos como educador universitário em três instituições superiores: a Unesc, a Unisul e a Esucri. Hoje já não leciono mais.
Lembro-me que durante aquele saboroso tempo sempre fazia uma reflexão com os jovens universitários sobre uma questão assaz interessante, que é a diferença entre aluno e estudante. Claro que aqui não vou me ater somente a questão semântica, mas também, e principalmente, o conceito sutil que está por trás dessas palavras.
Há controvérsia, mas uma das formas de se analisar a palavra aluno é que ela vem do latim. Traduzindo, a grosso modo, aluno quer dizer “a” (sem) e “lúmen” (luz), ou seja, aquele que não sabe nada, é uma tábua rasa, um copo vazio que deve ser preenchido. Dentro desse raciocínio, àqueles que veem os alunos dessa forma, também encaram que eles são seres estáticos, sem história, indivíduos sem luz própria perdidos nas trevas lúgubres do conhecimento.
Assim, para poder ser alguém e crescer, o aluno decora, não interliga fatos, é hermético nos conhecimentos repassados, não é criativo e extremamente dependente de algo ou alguém que lhe indique (ilumine) o caminho. Aqui outra aberração, pois o aluno tem seu caminho indicado por influências externas que lhes mostram que é normal, aceitável e até elogiável; isso, praticamente nunca desabrocha de dentro de si, da sua vontade, da sua alma.
O aluno geralmente não gosta de ir às aulas, não gosta de ler e nem estudar. É um reprodutor do sistema tal qual lhe foi apresentado pelos “iluminados”. O bom aluno até pode vir a ser um bom técnico, mas terá dificuldades de sair disso. Senão vejamos o que boa parte das escolas e da educação está fazendo: criando um bando de jovens que tem muita informação, mas geralmente, não sabem o que fazer com ela.
Passemos agora ao estudante que, inclusive, tem um dia no calendário escolar, já o aluno não. O estudante já traz em si – educere – a sabedoria inata de que não é uma tábua rasa. Não é que ele sabe tudo, mas também não se pode dizer que ele não sabe nada.
O estudante entende que nem ele nem ninguém sabe tudo e que, por isso, independentemente do assunto, ele sempre tem algo a dizer; tanto a ensinar quanto a aprender. Só isso já altera a noção de história e dá uma dinamicidade maior ao cotidiano dele. O estudante não se preocupa em decorar e sim questionar, fazer relações entre acontecimentos. Afinal de contas, ensina Piaget, inteligência é a capacidade de “interligar” fatos.
A transcendência para uma vida mais humana, centrada e feliz está no estudante, aquele que já traz a luz do conhecimento que transforma a vida, não a sombra que a repete.
* Psicólogo e escritor – www.oikos.org.br
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