Acabei de chegar de mais uma caminhada. A dorzinha nas pernas ainda me acompanha. As bolhas, na verdade, cinco, das quais uma no calcanhar, lembram-me diariamente desta aventura. Enfim, parei a caminhada há alguns dias, mas a jornada ainda está em mim. Que bom!
Desta vez percorri durante nove dias, junto com minha companheira De Wotmeyer e as amigas Rosineri Tibúrcio, de Jaguaruna, Iara Dreckmann, de Floripa, e Gisele Crescêncio, de Içara, os 200 quilômetros do Caminho Circuito do Vale Europeu, na região de Blumenau, em Santa Catarina. Saímos de Indaial, passamos por Timbó, Pomerode, Rio dos Cedros, Benedito Novo (Alto), Dr. Pedrinho, Benedito Novo (Zinco), Rodeio, Ascurra e chegando novamente em Indaial. Sim, saímos de Indaial e chegamos a Indaial, pois, nesta existência, parece que a gente nunca volta, só vai. Nesta de ir, a gente vive chegando, sempre chegando nos lugares…
Foi uma caminhada marcante, com grandes e intermináveis morros. Nela, pegamos sol forte e chuva torrencial que nos acompanhou durante um domingo inteiro. Nos cansamos, passamos sede, tivemos vontade de desistir, nos perguntamos ‘’o que eu estou fazendo aqui?”. Mas, se me perguntassem, faria tudo de novo.
“Tu vais tirar 10 dias de férias e caminhar, passar trabalho?”- perguntaram alguns amigos. “Sim” – respondia. O caminho imita a vida, há bolhas e há flores, a chave, talvez, seja não se fixar em nenhuma delas; saber que elas existem e fazem parte da jornada. Não se alegrar com as flores e não se entristecer com as bolhas, simplesmente acolhê-las e, se conseguir, curti-las.
Caminhando eu me sinto livre, conheço pessoas, lugares, enfrento as adversidades e me encontro a mim mesmo. Se você nunca caminhou um tempo assim, entendo que me chame de louco. Mas penso que você deveria, pelo menos uma vez nesta existência, afivelar a mochila nas costas e sair por aí por este mundo de infinitas possibilidades.
Quando a gente faz isso, afivela uma mochila nas costas, a sensibilidade fica mais aguçada. A gente sente o cheiro do mato, o adocicado que vem das flores, ouve o cantar dos pássaros, a orquestra de bugio, vê as formiguinhas se atravessarem a sua frente, obrigando a aumentar a passada. Caminhando, a gente se reconecta com o nosso nômade e passamos a acolher com mais amorosidade o sedentário que nos tornamos. Quando caminho realmente entende o que estamos fazendo neste cotidiano tão ilusório e consigo encontrar energias para enfrentar o cotidiano com mais sobriedade.
Você não imagina o que é caminhar 20, 25 e até 30 quilômetros em um dia todo em baixo de sol ou de chuva, com bolhas nos pés, e chegar a pousada no meio da tarde. Lavar a roupa, tomar um banho gostoso e tirar aquela sesta de uma hora. Depois acordar, reconhecer o local onde está, interagir com as pessoas nativas e trocar experiências com os demais peregrinos. Jantar e depois dormir, pois no outro dia, às 7 horas, inicia mais uma jornada. Falar disso, pra mim, é falar de vida plena.
Pra mim, por ora, parafraseando Fernando Pessoa, “caminhar é preciso, mas viver não é preciso”. Por isso, cada um tem a sua bússola, o seu jeito de se encantar, se arrepiar e viver. Este é o meu. Qual é o seu?
* Jornalista, escritor, psicólogo, peregrino – www.oikos.org.br
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