* Por Beto Colombo
Querido leitor, rogo que você esteja bem. Nosso tema hoje é sobre saber silenciar.
Xenócrates, discípulo de Platão, escreveu: “Arrependo-me de coisas que disse, mas jamais do meu silêncio”. Como já falei aqui neste espaço, quando li a frase de Xenócrates, lembrei-me de pronto das muitas vezes que acordei com a ressaca depois de um pouco mais de vinho da noite anterior. Mas a dor de cabeça não era pelo excesso da bebida, e sim pelo excesso de palavras.
No programa Fantástico da Rede Globo, do último dia 25 de maio, a apresentadora Xuxa concedeu uma entrevista que é, no mínimo, intrigante. Falou de um grande número de temas, como fama, família, filha, amor, mas o que mais mexeu com as pessoas foi o fato dela, agora, a beira de completar 50 anos, dizer que foi abusada sexualmente quando criança. Para alguém tão esclarecido, por que só agora resolve denunciar algo tão grave?
Como sabemos, existem vários tipos de violência, aquela que agride e aquela que é sutil, mas é tão letal ou pior que a outra. Assim também existem vários tipos de abusos. Há os que finalizam um ato carnal, mas há também os que despertam desejos de consumismo. Há os abusos que erotizam meninas precocemente, vulgarizam as relações, vendem bolsinhas, vendem sandalhinhas, vendem bonecas, vendem roupas, vendem cd´s de músicas, vendem chicletes, iogurtes e brinquedos. Vender, vender, vender. Este contrassenso me parece um estranho amor.
Em uma aberta crítica ao que ela diz como “jogo de marketing”, a psicóloga carioca Heloísa Lima lembra da história de Xuxa. Para ela, os programas da rainha dos baixinhos estimulando a sexualidade de forma tão precoce, “as meninas perderam grande e preciosa fase do seu desenvolvimento natural. E reduzir o período da inocência, certamente, acarretou-lhes desdobramentos nefastos. Daí para ideia, cada vez mais presente, da infância como objeto a ser apreciado, desejado, exaltado, numa espécie de pedofilização generalizada na sociedade foi, apenas, um pequeno passo”.
Muitas vezes somos avaliados e julgados pelo que dissemos, é verdade. Mas o que falamos é comparado ao que fazemos, ao que fomos e somos. Quando a prática não é o discurso é prudente que reflitamos e até que nos calemos. “Arrependo-me de coisas que disse, mas jamais do meu silêncio”, eis um bom ensinamento para estas ocasiões. Há momentos e momentos. Há momentos de falar e há momentos de calar. Contudo, como saber qual o mais apropriado? Na dúvida, talvez a melhor fala seja o silêncio.
É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre saber silenciar?
* Empresário, Filósofo Clínico, Diretor Presidente da Anjo
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