Querido leitor, paz! Estou sentado na frente da nossa casa de praia, em Jurerê. É final de tarde. Aproveito a sombra, pois o sol se esconde atrás de um pé de acácia negra logo ali na minha frente. Tudo é harmonia e tranquilidade.
Qual não foi minha surpresa quando ouço um som estridente e estranho vindo do meu lado esquerdo. Corro os olhos e incialmente não vejo nada. Mas depois, um pouco mais detido aos detalhes, avisto, um pouco afastado, um gavião que bicava o vidro espelhado. De camarote, observo aquela ave se digladiando consigo mesma a ponto de ir contra o espelho várias vezes, deslizando de cima para baixo até sumir atrás das telhas.
Fiquei ali olhando aquele episódio atônito. Mesmo à distância percebi que aquela guerra contra si mesma estava deixando a ave ensanguentada. E, mesmo assim, ela não parava de brigar consigo mesma.
Sentado no deck da área defronte a nossa casa, observando tudo aquilo, comecei a sentir uma compaixão profunda e a dor vista a distância do sangue daquele pássaro passou a ser a minha dor. Não tive como também me voltar para mim e ver quantos de nós não faz verdadeiras guerras mentais consigo mesmo, dentro de si, e acaba se machucando, se ferindo. E, muitas vezes, é só um pensamento, uma projeção interna. Se formos a fundo é só pensamento, não é fato. Isso não é incrível?
Lembro de uma querida amiga no alto dos seus 40 anos. Uma bela mulher, já com autonomia financeira, um bom trabalho, uma profissão invejável. Mas, no dizer dela, infeliz por estar sozinha. “Meus pais me impediram de sair, de conhecer outras pessoas e acabei ficando só”, explicava. Diante da pergunta de onde estavam seus pais, a resposta comparada a do vidro espelhado: “Morreram, ele tem 10 e ela 12 anos”. Que coisa não?
Inquieto e sensibilizado, como terapeuta, como filósofo clínico, fiz algo que minha intuição mandou fazer. Ir ao encontro do gavião e, com uma folha caída de uma palmeira, espantei a ave da frente do vidro espelhado. A ave voou, mas sem explicação, retornou minutos depois a bicar o vidro.
Assim como aquela ave, algumas pessoas não se deram conta que seu maior inimigo pode ser ela mesma.
Lembrando que isso é assim para mim hoje.
* Empresário, Especialista em Filosofia Clínica, Presidente do Conselho Consultivo da Anjo – Blog Beto Colombo
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