Querido leitor, que você esteja bem. Em maio deste ano fiz uma viagem de estudos a Portugal, fui com um grupo de acadêmicos e professores de Filosofia Clínica. Nos hospedamos em um hotel à beira-mar, em Cascais, distante 30 quilômetros de Lisboa, onde estudávamos no período vespertino. Como tínhamos a manhã livre, geralmente acordava cedo para caminhar e conhecer melhor a região.
Foi em uma dessas saídas matutinas que tive uma grata e gostosa surpresa, quando conheci o seu Manuel Pereira. Baixinho, cabelos e bigode brancos, sandália franciscana e roupas discretas, para não dizer simples. Com ele, tive um grande insight.
Era quarta-feira de vento norte, gelado e forte, daqueles que chamamos carinhosamente em nossa região de “vento rapa canela”. Enquanto aguardava o amigo Ildo Meyer no hall de entrada do hotel para caminhar, observei, ao longe, aquele enigmático senhor jogando algo para os pássaros que, em sua maioria, se aproximava e comia.
Intrigado, fui me aproximando e logo estava bem próximo dele que, estrategicamente, sentava atrás de um pilar. Rapidinho nos apresentamos um ao outro e, no dizer de Exupery, nos cativamos. Com o seu consentimento, cheguei inclusive a fotografa-los. Ali, testemunhando aquela cena simples e corriqueira, vi seu Manuel jogar pães às gaivotas e elas se aproximarem. Mas nem tudo era exatamente o que via, pois uma realidade oculta me foi mostrada pelo sábio senhor.
Com intimidade, seu Manuel Pereira começou a apontar cada pássaro e a dizer as mais velhas, as mais jovens; a intimidade entre eles era tão grande que fiquei, em vão, aguardando ele dizer os nomes das aves. “Aquela ali ainda não se acostumou comigo, pois vem comer um pouco afastada”, falou. Que continuou dizendo: “Estas aqui chegam mais próximas, bem pertinho, mas tem uma que vem comer na minha mão”.
Ato contínuo, lá vem ela batendo as asas, planando envolta ao seu Manuel, até que pousa ao seu lado. O homem estica o braço e o anunciado acontece: a gaivota come em sua mão. Qual não foi minha surpresa quando, no exato momento em que passa um barulhento caminhão esta ave, repentinamente, voa para longe. “Ela come em minha mão, mas não se acostumou com o barulho urbano”.
Ali, naquela cena tão corriqueira no cotidiano e tão profunda no aprendizado, reflito sobre a amizade e a paciência do seu Manuel com aquelas gaivotas. Também, o fato do barulho ensurdecedor mexer tanto com algumas gaivotas.
Para algumas pessoas, o barulho do trânsito, o som alto do rádio, o arrastar de móveis no andar de cima pode ser como se fosse um soco. Saudades do seu Manuel, suas gaivotas e ensinamentos. Isso é assim para mim hoje.
* Empresário, Especialista em Filosofia Clínica, Presidente do Conselho Consultivo da Anjo – Blog Beto Colombo
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